Notas de (mais uma) viagem a Petrópolis

Na BR-040, que liga Brasília ao Rio de Janeiro, encontramos pouquíssimo movimento. Na maior parte do trecho até Sete Lagoas havia apenas o nosso carro e os caminhões que escoam a safra. Os grãos de soja caem pelo caminho e quando o trânsito se aquieta os pássaros correm para se alimentar. Encontramos um se número de tucanos, quero-queros, dois casais de araras e outras tantas aves que não sei identificar.

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Inverno é época das árvores floridas. Às margens da estrada, vejo ipês rosas, alguns amarelos, ainda tímidos, e árvores das mais variadas cores. As matas até Belo Horizonte estão cheias de flores roxas, e eu ignoro qual é a espécie. Eu me recordo da minha avó, que conhecia todas as árvores floridas. E nos passeios de carro com a família nunca se cansava de comentar sobre a beleza das quaresmeiras, ipês ou qualquer que fosse a florada da época. Vou para Petrópolis, passar férias na casa que um dia foi da minha avó, e onde vivi minha infância. Vou rever tudo que me é familiar, o que só faz aumentar a saudade que sinto da minha avó.

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Ao chegar a Três Marias atravessamos a ponte que corta o Rio São Francisco. Eu já cruzei o rio São Francisco inúmeras vezes. Visitei a sua foz em Piaçabuçu, em um dos passeios mais bonitos que fiz na vida. Tem algo no rio São Francisco que me emociona e faz a garganta apertar, assim, sem qualquer explicação.

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Três Marias me faz lembrar do meu pai e meu irmão, que sempre paravam debaixo da ponte para almoçar peixe frito. Tradições de família. O lago é bonito. Mas nós não paramos. Seguimos até a pernoite em Sete Lagoas. O menino acha o máximo essa parada em um hotel à beira da estrada, ao lado de um shopping com MacDonald’s e sorvetes do Chiquinho. Novas tradições familiares.

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Levei comigo dois livros que, com o dia todo consumido em programas familiares, permaneceram quase intocados. O menino se encantou com o Limonov do Emmanuel Carrére, em uma edição linda da Tag, que brinca com o nome e traz a caixa e capa dura em tons cítricos. “Li-mo-nov”, ele lê certinho, mas devagar, com aquele tom característicos dos recém-alfabetizados. Eu comemoro a leitura correta de uma palavra estranha, sem qualquer ilustração ou contexto para ajudar, enquanto ele me olha intrigado: que diabos é Limonov? Difícil dizer se gostei mais do livro ou do menino lendo o título. Limonov se torna inesquecível pelo título soletrado na voz de uma criança de sete anos. Na hora de fazer as malas, quase esquecido, o menino aponta para o volume e me pergunta: “O Limonov volta para Brasília?” Sim, o Limonov volta para Brasília. Ele folheia o livro curioso e me pede que conte a história do Limonov. Afinal, tudo o que eu faço ou leio desperta a curiosidade dele. Seguro o riso e rezo para que ele se esqueça do Limonov por uns tempos.

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A tia Cláudia me presenteia com um móbile de tsurus, e uns outros tantos soltos, que encantam o menino. Ele acomoda os pássaros em barquinhos também feitos de origami. Como era mesmo a lenda? Mil tsurus e um pedido atendido pelos deuses?

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